Memorial: Ilka Pires
- Ilka Pires
- 28 de set. de 2015
- 5 min de leitura

Sou Ilka Freire Pires, nasci em 21 de setembro de 1973, em Brasília-DF, Hoje moro no Guará I – DF, sou filha e irmã de professora e resolvi cursar pedagogia por influência das duas, mas principalmente para realizar o sonho de minha mãe, em ver a sua filha caçula formada, pois dos seus três filhos apenas eu não tenho graduação de curso superior. Iniciei meus estudos aos 4 anos, no Jardim de Infância na
QI. 12 do Guará I, era numa casa não me recordo o nome. O que me lembro desta época era que, como morávamos na QI. 18, meu irmão me levava para a casa dos meus avós e de lá minha Tia levava a mim e a minha prima Mariana juntas, para a escolinha. Fazíamos uma grande farra durante todo o percurso.
Mudamos para o Guará II e fui estudar na escola classe 06. Cursei a 1ª e a 2ª séries nesta escola. O que mais me marcou nesta época era o fato de ser a mesma escola que a minha mãe dava aulas. Eu estava na 1ª série e meu irmão na 4ª. Ele estudava com a minha mãe. Me lembro de sair da minha sala e ir para a dele pedir para torcarmos, pois queria muito ficar perto de minha mãe. Acredito que se ele pudesse escolher, ele trocaria, pois mamãe exigia muito dele. Mais uma vez mudamos, só que agora para Sobradinho. Fiz a 3ª e parte da 4ª série na escola classe 02 de sobradinho. O fato mais marcante, foi no inicio da 4ª série. A novidade de ter mais de uma professora em sala, E agora era não podíamos mais chamá-la de "Tia". De agora em diante seria "Professora".
Em 27 de setembro de 1983 - me recordo claramente a data que voltamos a morar no Guará I, afinal era dia de Cosme & Damião. Desci do caminhão da mudança larguei meus pais e fui atrás dos doces. Terminei a 4ª série na escola classe 5. A maior lembrança deste período era que estudava no período chamado de turno da fome, das 10:30 às 14:00 horas. Eram muitas crianças para poucas escolas públicas. Fui de uma geração em que as escolas públicas eram as melhores, as particulares eram conhecidas como “papai pagou, passou”.
Na 5ª série fui para a escola classe 04 e cursei metade da 7ª série lá. Lá passei os maiores problemas da minha educação básica. Foi lá que reprovei a 6ª serie por falta em Educação física. O horário para à prática de Educação Física eram contrario ao horário de aula, nesta época estudava no período matutino e por ironia do destino
reprovei na matéria que mais praticava, o Voleibol. Comecei a jogar por algumas
agremiações nesta época e meu treinador me orientou que as faltas da educação física seriam abonadas, afinal estava praticando a Educação Física. Só que as faltas não foram abonadas e reprovei a 6ª série. Mas ainda assim não abandonei o Voleibol.
Já na 7ª série, agora sendo treinada por outro treinador, este me conseguiu uma bolsa no colégio Projeção do Guará no segundo semestre deste ano. A diferença na aprendizagem era a dificuldade por minha total falta de comprometimento com os estudos e isto me fez reprovar mais um ano. Por isso meus pais me forçaram a
abandonar o Voleibol, e eu já era levantadora da seleção infanto-juvenil de Brasília. Cursei a 7ª e depois a 8ª série, no Centro de Ensino 02 do Guará o famoso GG do Guará I no período vespertino, para não ter perigo de jogar Voleibol. Nesta escola o que mais me marcou foram os professores de Matemática Claudete e o de Português
Agostini, verdadeiros mestres que me fizeram gostar e realmente aprender, matérias que para mim eram verdadeiros pesadelos. Eles conseguiram com método e paciência, transformar aversão em paixão, e graças a esta paixão, senti muito mais facilidade ao cursar o ensino médio.
Em 1990 meus pais concluíram a construção da casa da chácara que temos até hoje, no Núcleo Rural Taquara e era o sonho do meu pai ir morar lá. A princípio seria só uma
temporada. Como minha mãe se aposentaria em 1992, ela topou a empreitada, só que essa temporada dura até hoje pois eles ainda residem lá. Por influência da área rural e
principalmente do meu pai, resolvi cursar no ensino médio Técnico em Agropecuária no Colégio Agrícola de Brasília, o CAB.
Essa época foi um divisor de águas em minha vida. Menina de cidade, eu era uma autêntica “patricinha” que caiu de paraquedas para estudar em uma escola que a maioria dos que estavam ali, pertenciam a famílias do campo, rurais mesmos ou “peões” como chamavam em termo pejorativo. Eu que era bastante fresca, aprendi ali a ser gente. O choque cultural foi muito grande inicialmente, era uma escola diferente de todas que já havia passado. Estudava em período integral, aulas teóricas na parte da manhã e práticas no período da tarde. O primeiro ano foi o mais complicado. Naquela época, ainda era permitido o trote em cima dos novatos. Para muitos uma brincadeira, pra os que sofriam, era uma verdadeira tortura. Muitos desistiam na
primeira semana. Quem entrava no 1º ano eram os calouros, no 2º ano os Ra (Resto agrícola) e os que estavam no 3º ano, eram conhecidos como os Capa Gatos. Todos que ali entram passavam a ter apelidos, e inclusive muitos levam estes apelidos para a vida toda. Como meu nome já é um apelido, acabei não tendo um. Até tentaram, mas não pegou, o que foi uma raridade. Tinha fama de riquinha e chatinha, riquinha não, agora chata... Bem deixa isso pra lá. Riquinha não era não, mas muitos
achavam porque meu pai me levava e buscava de carro todos os dias. O que muitos não sabiam é que não havia outra forma de ir da chácara pra a escola se não fosse de
carro.
A predominância de alunos homens era enorme. A cada ano tinham mais ou menos 5 turmas. Destas, apenas uma turma em cada ano era semi-internato. O horário de entrada era às 07:15 às 17:45. Os que eram internos, somente homens, chegavam na segunda é só iam embora na sexta, se não estivessem de plantão, pois os animais e plantas não param de comer e/ou crescer por ser final de semana ou feriado. Mesmo numa turma mista - composta basicamente por homens, cerca de 70% - aprendi a me impor e a ser respeitada. Numa fase em que os hormônios estão aflorados, tudo é muito complicado, mas aprendi a lidar e a estudar plenamente.
Fiz parte do grêmio estudantil da comissão de formatura. Eu era bem popular e engajada e me apaixonei pela profissão. Me formei no tempo certo, não reprovei, tive professores maravilhosos! Posso citar alguns como, a Zuleica de Português, o Ivair de bovinocultura, o Salesiano de Fruticultura, e o de Topografia e Agrimensura
professor José Soares, esta última que é calculo em cima de cálculo. Hoje, escrevendo este memorial percebo que se não fosse a professora Claudete lá do GG que me fez gostar verdadeiramente da matemática, me dando
subsídios para superar uma matéria tão complexa. Graças a estes profissionais e a tudo que vi e vivi na minha formação, tenho a certeza que aprendi a “Ser” um ser
humano de verdade. Aprendi valores que levei para a minha vida, espero no futuro me tornar uma profissional na educação que faça a diferença na vida acadêmica de ao
menos um aluno.
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